sexta-feira, 16 de abril de 2010

Jardim Perdido

Jardim
em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,

Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.


A verdura
das arvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.


A luz trazia
em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.


Mas cada
gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.


Sophia de Mello Breyner

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