sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O sonho desgasta o real *

Dorme num sono suave, sobre a cama de madeira escura. A janela aberta, serve de anfitriã à brisa húmida da noite que entra pelo quarto dentro, deixando o seu rosto branco, gelado. Nada sente. A sua mente estava mergulhada no sonho, e os seus membros anestesiados com a sua assombrosa envolvência. Ainda afogado em si próprio, levanta-se com os seus pés nus, abre a porta de sua casa. Dá a mão ao seu inconsciente, e caminha na longa avenida, despida do vazio das multidões. Chove. Nada sente. Continua entre a escuridão da realidade, e as luzes incandescentes da sua cidade adormecida. As gotas de chuva, não despertam o seu consciente. 





Os seus passos pesados sobre a estrada, a chuva que absorve o seu corpo, as luzes fortes que o iluminam. O som de desespero à sua frente. Nada sente. O seu sangue expande-se sobre o alcatrão testemunha do seu último suspiro. Os seus olhos abertos, nada viram. O seu cadáver gelado, que nada sentiu. Abandona o seu corpo pesado. Lá no alto, onde nunca conseguiu chegar, a sua metade mais leve, caminha sobre as nuvens, livre dos pesos de uma vida sem sentido.
Agora, sente. Sente que continua o seu sonho. Mas desta vez, é real.





A todos aqueles que 
se esquecessem de viver. 
E que respiram o agora, 
só porque sim.

Sem comentários:

Enviar um comentário