domingo, 27 de fevereiro de 2011

De luto por pessoas vivas *

Ando com um bolo no estômago à semanas, formado por um acumular de situações que eu sinto, e que não consigo explicar-te de uma forma fluente, curta e explícita. Porque só os meus olhos as vêm, e só o coração as entende. O bolo no meu estômago tem o teu nome. Provavelmente tem a cor do teu sangue, que é verde. De tão amargo e que é. Tem também o formato da raiva que sinto por ti. Esta raiva - que me envergonho sempre - de a ter situada no lado esquerdo do peito, vai passar, quando der lugar à indiferença. Às vezes já a sinto por perto. 

Já me questionei se a raiva será mesmo de ti, ou de mim. De mim por te ter dado os meus braços para te agarrares quando choravas discretamente. Por ter dado gargalhadas contigo. Por ter dividido contigo o mesmo cobertor. Por ter vivido os teus problemas. Por te ajudar a por na mesa, todas as soluções. Por ter caminhado contigo debaixo da chuva, do frio, do calor abrasador. Por me dares a mão quando eu estava a cair. Raiva de mim, por me teres dado uma esperança, quando a minha vida estava por um fio. 

É triste, perceber que utilizaste tão bem os meus pontos fracos para me atingires. E é ainda mais triste, que faças isso sem nenhuma razão aparente. A pessoa que me tirou do poço, quer me por lá outra vez. Ironia da vida.
Não vais conseguir. Tornaste-me forte o suficiente para me deitares ao chão.  


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Estranho é o sono que não te devolve *

Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
de quem não espera recado.

Essa sombra como é a alma
de quem já só por dentro se ilumina
e surpreende
e por fora é
apenas peso de ser tarde.
Como é  amargo não poder guardar-te
em chão mais próximo do coração.

Daniel Faria