quarta-feira, 24 de março de 2010

Amargo vazio

Às vezes, quando penso que mais nada me pode surpreender, assusto-me e caíu: Mais um pontapé da vida. Mais uma falha no meu castelo de areia - que eu insisto em reconstruír aos poucos. Mais uma derrocada de sentimentos acumulados.  Caíu. Choro. Não porque a queda doeu. Eu não sinto nada. Choro pelo vazio. O vazio doí. Amargo vazio, de não ter chão para continuar a caminhar depois da queda.


terça-feira, 16 de março de 2010


Imagem do filme: P.S I Love you


A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

Ornatos Violeta

domingo, 14 de março de 2010

Palavras *

Não tenho mais palavras
Gastei-as a negar-te
Só a negar-te pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.

 
Miguel Torga

quarta-feira, 10 de março de 2010

Um Pedaço de Sossego



Fugir não é cobardia.
É restaurar a alma depois
De uma guerra.

É partir
Para curar feridas.

É procurar
Noutro lugar
Um pedaço de sossego.

É disso que preciso, um pedaço de sossego. Preciso de partir. Curar antigas feridas. Sentir saudades de voltar às minhas raízes. Resgatar a atmosfera da minha solidão feliz, que foi invadida por um silêncio viciado, e transtornado por fantasmas prisioneiros à voz do coração.

terça-feira, 9 de março de 2010

Contra a velocidade dos dias *



Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre à frente
Do que o teu próprio passo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 6 de março de 2010

Um rascunho de Vida *

Fazer da vida
um rascunho.
Planear tudo,
excepto a falta de tinta.

Estar um passo
à frente da vida
Tropeçar,
cair na morte.

 
Último suspiro:
Desejar a vida
aquela que outrora
esquecemos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Breve desabafo *

Que se foda quem nos sorri e nos dá a mão.
(nas nossas costas arranca-nos os membros a sangue frio)

Que se foda o amor. que não existe.
(faz-nos de prisioneiros de uma – irrealidade - a vida inteira)

Que se foda Deus por ter criado o Mundo.
(e por ter criado o Homem)


Que se foda. Que se foda. Que se foda.


Sinto o meu órgão vital, do avesso. Tenho as veias inchadas de raiva.
Apetece-me gritar. E grito, para dentro.
Apetece-me devastar tudo o que apanhar pela frente. E devasto, mas cá dentro.
Quem me dera, ter a forma de um ciclone, e destruir tudo.
E que dos pedaços da morte, nasce-se a vida. Mais leve, mais humana.


(Depois deste rascunho, agora sim – respiro melhor..)