sexta-feira, 16 de abril de 2010

Jardim Perdido

Jardim
em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,

Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.


A verdura
das arvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.


A luz trazia
em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.


Mas cada
gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.


Sophia de Mello Breyner

terça-feira, 13 de abril de 2010

Das Cinzas

 
Eu não falo. Nunca falo. Por isso escrevo.
 É mais fácil, que as palavras falem por mim.
São o intermediário entre mim e o mundo.
Porque sim. E hoje, estou aqui.  
E escrevo somente para me ouvir. 




Sempre pensei que o teu silêncio fosse sinal de esquecimento, por isso nunca pensei que voltasses. Mas voltaste e pediste um lugar no meu regaço, para chorares - como nunca tinhas feito. E eu? Envolvi-te na minha atmosfera - aparentemente - feliz com um propósito: somente animar-te. Fazer com que não desistas daquilo que realmente te faz sorrir. Porque, é isso que importa. Sorrir. 
Mas eu - sempre ao contrário - chorei. 
Através de ti, lembrei-me daquilo que fui. E chorei, pela minha morte, e por não saber onde esconder as minhas cinzas. Apesar de ter conseguido renascer, as cinzas do que fui  anteriormente, que permaneciam à superfície da minha pele, ultrapassaram as veias, e chegaram ao coração.  Cinzas que desenterraram as recordações guardadas na minha outra página. Na minha outra história. Na minha outra vida. Chorei. Chorei baixinho. 

Em ti vi, o meu espelho. Tudo aquilo que eu fui.
Agora vê em mim, o teu futuro.
 
  

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Utopia



It's a strange day
No colours or shapes

I forget who I am
When I'm with you
There's no reason
There's no sense
I'm not supposed to feel
I forget who I am
I forget

Goldfrapp